Neste segundo post do nosso trabalho acadêmico sobre lógica paraconsistente e computação quântica, iremos mostrar que a lógica paraconsistente não se limita a aspectos teóricos ou filosóficos. Pode-se demonstrar que as lógicas paraconsistentes generalizam a teoria de conjuntos nebulosos (fuzzy sets). Isso traz uma variedade de aplicações, permitindo que se construam mecanismos (para-analisadores e para-processadores) que permitem considerar uma variedade de comandos muito mais abrangentes do que os antigos ‘sim’ e ‘não’. A partir disso, têm sido feitos ensaios de aplicações ao controle de qualidade, à robótica, aos raciocínios não-monotônicos e padrões, ao controle de tráfego aéreo e na medicina. Um dos campos mais férteis de aplicações tem sido a ciência da computação e, hoje, a engenharia e mesmo a medicina.
Na década de 80, foi utilizada por Subrahmanian (da Universidade de Siracusa, nos Estados Unidos) e colaboradores na elaboração de sistemas especialistas para serem usados especialmente em medicina. Simplificando, pode-se imaginar situações em que um paciente interage com um computador e, mediante perguntas e respostas, ele chega a diagnosticar e até mesmo medicar o paciente, ou remetê-lo ao médico nos casos mais sérios.
Na elaboração de tais sistemas, que devem ser erigidos em linguagens nas quais se possa fazer determinadas inferências (tirar conclusões a partir de certas premissas), os cientistas em geral entrevistam vários especialistas (médicos). Para o programa funcionar, cria-se um banco de dados contendo as opiniões dos diversos médicos entrevistados, e é a partir desse banco de dados que o sistema vai tirar conclusões, valendo-se das regras de alguma lógica.
Porém, devido à grande complexidade envolvida com a ciência médica, os médicos podem ter opiniões divergentes (e mesmo contraditórias) sobre um certo assunto ou sobre a causa de um certo mal. Logo, se no banco de dados há duas informações que se contradigam, refletindo opiniões contraditórias de dois especialistas, se o sistema operar com a lógica clássica, pode ocorrer a dedução de uma contradição, o que inviabiliza (tornando trivial) o sistema como um todo. Para poder considerar bancos de dados amplos, eventualmente contendo informações contraditórias e sem que se corra o risco de trivialização, a lógica a ser utilizada deve ser uma lógica paraconsistente.
Na área da robótica, um robô pode estar equipado com vários tipos de sensores e tais sensores poderiam gerar informações contraditórias. Um dos casos mais simples é o de um visor ótico, que poderia não detectar uma parede de vidro, dizendo “posso passar”, enquanto que um sonar a detectaria, dizendo “não posso passar”. Um robô “clássico”, com ambos os sensores, na presença de uma contradição, terá dificuldades óbvias, que parecem poder ser mais facilmente superadas com o uso das lógicas paraconsistentes (usa-se nesses casos um tipo particular de lógicas, conhecidas como lógicas anotadas).Leia mais »