Lógica Paraconsistente: Le Grand Finale

Nas Máquinas de Turing Paraconsistentes (MTPs) cada função de escolha de valores dos diferentes elementos da máquina, representa uma configuração de uma Máquina de Turing Clássica (MT). Portanto, a configuração das MTPs podem ser interpretadas como uma superposição de configurações de uma MT além de, no final da computação, ser realizada só uma escolha de valores dos elementos da máquina para obter um único resultado. As MTPs podem ser consideradas similares as Máquinas de Turing Quânticas (MTQs) nas quais são permitidas somente superposições uniformes.

Resultado de imagem para estados quanticos emaranhadosEmaranhamento Quântico

Contudo, não é possível representar estados emaranhados nas MTPs através da mera interpretação da multiplicidade de valores como superposição de estados. Isso porque qualquer superposição uniforme emaranhada de estados exclui alguma combinação de valores dos elementos constituintes, enquanto, nas MTPs, qualquer combinação de valores na configuração da máquina pode ser obtida, ou seja, nenhuma combinação é excluída.

A noção de fase relativa nas MTQs também não é diretamente representável através das MTPs, e essa característica é essencial para a interferência quântica, que é o mecanismo provido pelas MTQs para aproveitar o paralelismo no processo de computação. O mecanismo provido pelas MTPs para aproveitar o paralelismo e bastante diferente da interferência quântica: consiste na adição de condições de inconsistência na definição das instruções.

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Lógica Paraconsistente: Máquina de Turing Quântica

A máquina de Turing Quântica foi primeiro proposta pelo físico teórico David Deutsch (post sobre ele no blog neste link), em 1985, no seu trabalho “Quantum theory, the Church-Turing principle and the universal quantum computer“, disponível neste link.

david-deutsch

A máquina de Turing Quântica é uma abstração da máquina de Turing Clássica, processando um algoritmo quântico. O seu funcionamento é similar a máquina clássica, com algumas diferenças contudo que iremos explorar neste post. Vamos primeiro ver a história da máquina de Turing:

1973:
Bennett demonstra que uma máquina de Turing reversível é possível.

1980:
Benioff observa que como a mecânica quântica é reversível, um computador baseado em seus princípios deveria ser reversível também.

1982:
Richard Feynman demonstra que nenhuma Máquina de Turing Clássica pode simular fenômenos quânticos, sendo necessário um computador quântico para isso.

1985:
David Deutsch descreve a primeira máquina de Turing Quântica.

Uma máquina de Turing Clássica começa a computação com um programa e os dados inicias sendo escritos em uma fita. A cabeça é colocada em um estado, e lê o programa.  O programa é lido, suas instruções são executadas, a cabeça se move para um lado ou para o outro, lê mais dados, escreve mais dados. Uma máquina de Turing Clássica, porém, é baseada nos princípios da física clássica. Os estados da fita e da cabeça são sempre possíveis de serem lidos e escritos. Os dados sempre podem ser copiados e tudo é definido de forma única.

image_previewEm uma máquina de Turing Quântica, ler, escrever e trocar de operações são todas funções realizados via interações quânticas. A fita e a cabeça em si existem em um estado quântico. No lugar da célula de Turing na fita clássica, que pode abrigar apenas bits 0 ou 1, a máquina de Turing Quântica abriga Qubits, que apresentam estados de superposição de 0 ou 1. Uma máquina de Turing Quântica pode codificar muitas entradas para um problema simultaneamente, e então calcular todas as entradas ao mesmo tempo.

Vejamos o Qubit abaixo, aonde a seta para cima representa o bit clássico 1, a seta para baixo corresponde ao 0. A seta no meio dos 2 extremos representa um estado de superposição de 1 e 0.

Qubit

Vejamos agora o comportamento da fita na máquina de Turing Quântica. O primeiro desenho representa o estado inicial da fita e da cabeça. Os 3 desenhos seguintes representam e exemplificam 3 posições diferentes que a cabeça pode se movimentar, sendo que a Máquina Quântica de Turing, apresenta um estado superposto desses 3 estados ao mesmo tempo.

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Lógica Paraconsistente: Máquina de Turing Paraconsistente Não Separáveis

As Máquina de Turing Paraconsistente Não Separáveis (MTPNSs) permitem a mistura de caminhos indiscriminadamente não permitindo aproveitar de forma adequada o paralelismo. Isso ocorre porque todas as possíveis combinações de estados e símbolos nas células da fita são considerados na execução das instruções. Essa é uma característica de algumas propriedades da LFI1 como a conjunção que valida a regra de separação (se ├LFI1 A^B então ├LFI1 A e ├LFI1 B) e a regra de adjunção (se ├LFI1 A e ├LFI1 B então ├LFI1 A^B). Assim, se ΔLFI1 (M(n)) ├ Qi(t, x) ^ Sj(t, x) e ΔLFI1 (M(n)) ├  Qk(t, x) ^ Sl(t, x), é também possível deduzir ΔLFI1 (M(n)) ├ Qi(t, x) ^ Sl(t, x) ΔLFI1 (M(n)) ├ Qk(t, x) ^ Sj(t, x). Consequentemente, se quiser definir um modelo de MTPs onde os diferentes caminhos de computação não se misturem totalmente, deve-se considerar uma lógica paraconsistente onde não seja valida a regra de separação ou a regra de adjunção (ou ambas).

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Existem lógicas paraconsistentes com conjunções não-adjuntivas, como a lógica discursiva de primeira ordem D2. Para utilizá-la novos axiomas teriam que ser propostos para indicar quando diferentes elementos no processo de computação podem ser considerados em conjunto. Como não existem lógicas paraconsistentes onde a regra de separação não seja válida, é preferível definir uma lógica paraconsistente na qual não seja valida a regra de separação, de forma a permitir interpretar os diferentes elementos da máquina correspondentes a um caminho de computação como estando inter-relacionados, o que permitirá pensar em caminhos de computação independentes.

Uma lógica paraconsistente não-separável (PNS5) é obtida a partir da lógica modal S5 através da função de tradução do conjunto de fórmulas ForPNS5 → ForS5. Dessa maneira a lógica PNS5 fica definida e é uma sublógica de S5. A definição dos conectivos em PNS5 são:

  • O conectivo • de inconsistência: •A = A ^◊ ¬◊A = ◊A ^ ◊¬A, em S5;
  • O conectivo ◦ de consistência: ◦A = ¬◊•A = □¬A v □A em S5;
  • A negação clássica ¬: ¬A = ¬◊A ^◊ ◦A = ◊¬A ^ (□¬A v □A) em S5;
  • A conjunção clássica: A^B = (A ^◊ B) ^◊ (◦A ^◊ ◦B) = ◊(A ^ B) ^ (□(A ^ B) v □(A ^ ¬B) v □(¬A ^ B) v □(¬A ^ ¬B)) em S5.

Com estas definições, os princípios de explosão passam a ser teoremas de PNS5. Tendo em conta tais características PNS5 pode legitimamente ser considerada como uma LFI. Para poder usar PNS5 em lugar da LFI1, é necessário estende-la à primeira ordem incluindo os quantificadores e a igualdade, S5Q=.Leia mais »

Lógica Paraconsistente: Máquina de Turing Paraconsistente

Nas Máquinas de Turing Paraconsistentes (MTPs) é possível, em principio, usar qualquer lógica paraconsistente de primeira ordem. A versão de primeira ordem utilizada foi a LFI1 lógica de inconsistência formal (LFI) que estende a lógica positiva clássica incluindo conectivos de consistência ◦ e inconsistência •, além de ter uma semântica simples e bem estabelecida.

As noções de inconsistência e contradição coincidem, através da equivalência •A ↔ (A^¬A), e o conectivo de consistência serve para recuperar o caráter explosivo das contradições:

  • se Δ |- LFI1 a e Δ |- LFI1¬a
  • então Δ , ◦α |- LFI1 β para toda fórmula β.

Além disso, ela permite codificar todas as inferências validas da lógica de primeira ordem clássica.

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Pelo fato de LFI1 ser uma extensão da lógica positiva clássica, a aplicação de múltiplas instâncias de esquemas de axiomas do tipo Aij (I), Aij (II) ou Aij (III), para o mesmo instante de tempo t, denota a execução simultânea das respectivas instruções, o que pode levar a multiplicidade de símbolos em algumas células da fita, ou a multiplicidade de estados ou posições da máquina. Tal multiplicidade, em conjunção com o uso de axiomas do tipo (Aqi) ou (Asj), necessariamente leva a contradições, as quais em LFI1 são identificadas com inconsistências.

Adicionando condições de inconsistência nos dois símbolos iniciais das instruções de forma a controlar sua execução, q•i indicará que a instrução será executada unicamente no caso em que a maquina esteja em múltiplos estados ou posições, enquanto s•j indicará que a instrução será executada unicamente no caso em que a célula da fita (onde a instrução vai ser executada) contenha múltiplos símbolos. Estas condições correspondem formalmente a colocar o conectivo •, respectivamente, na frente do predicado Qi ou Sj no antecedente dos axiomas que expressam instruções. Estas condições permitem aproveitar o paralelismo das MTPs.Leia mais »

Lógica Paraconsistente: Máquina de Turing

Para falarmos da máquina de Turing, precisamos conhecer seu criador: Alan Mathison Turing (1912-1954), conhecido também como Alan Turing. Ele foi um matemático britânico nascido em 23 de junho de 1912 na cidade de Paddington, na Inglaterra. Estudou na tradicional Escola Sherbourne tendo-se graduado em 1931 em Matemática pela Universidade de Cambridge.

Resultado de imagemAlan Turing

Depois de formado, e após muito estudo, criou uma máquina automatizada que calcula qualquer algoritmo e processa as instruções mecanicamente na própria máquina. Essa é a tão famosa Máquina de Turing que serviu como protótipo para os computadores atuais e permitiu o desenvolvimento do “Enigma” que foi capaz de decifrar os códigos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

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Máquina de Turing

Uma Máquina de Turing pode ser descrita como sendo constituída por uma cabeça de leitura/escrita e uma fita unidimensional potencialmente infinita em ambas as direções. A fita e dividida em células, cada uma das quais com capacidade de conter um único símbolo. Em cada instante de tempo a máquina se encontra em um determinado estado, e com a cabeça lendo uma célula especifica da fita, a qual ela considerada como sendo a posição atual da maquina. A configuração atual da maquina consiste na junção do estado atual e do símbolo que esta sendo lido na posição atual.

O comportamento da máquina é determinado por um conjunto de instruções, as quais indicam a operação a se realizar dependendo da configuração atual. As únicas operações que a maquina pode realizar são: escrever um novo símbolo na posição atual (substituindo o símbolo anterior) ou realizar um movimento da cabeça a esquerda ou direita, passando a uma célula subsequente da atual. Os estados, os símbolos de leitura/escrita e as instruções são conjuntos finitos.

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Lógica Paraconsistente: Classes

A lógica paraconsistente possui muitas classes podendo ser proposicional ou de 1ª ordem (lógica deôntica paraconsistente, lógica para inconsistência, lógica discursiva, lógica formal inconsistente, lógica paraconsistente anotada). A lógica proposicional paraconsistente anotada é subdividida em evidencial, com 2 valores (grau de crença e descrença), com 3 valores (grau de crença, descrença e especialidade), com 4 valores (grau de crença, descrença, especialidade e temporalidade), dentre outros.

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Lógica Proposicional Paraconsistente Anotada com 2 valores (LPA2v)

A) Reticulado Pt

Inicialmente, fixamos um reticulado finito denominado de reticulado de valores-verdades, t = < | t |, ≤ >, então t é um reticulado se:

  • ∀x, x ≤ x ( reflexividade )
  • Se x ≤ y e y ≤ x => x = y ( anti-simetria )
  • Se x ≤ y e y ≤ z => x ≤ z ( transitividade )
  • ∀x, y ∈ | t |, existe o supremo de x e y que denotamos por x v y
  • ∀x, y ∈ | t |, existe o ínfimo de x e y que denotamos por x ^ y

Associamos a este reticulado os seguintes símbolos:

  • ⊥ => que indica o mínimo de t
  • Τ => que indica o máximo de t

A representação de um reticulado finito se faz usualmente através do diagrama de Hasse.

Reticulado FinitoReticulado Finito

Fixamos, também, um operador ¬ | t | → | t | que terá intuitivamente o “significado” da negação da Lógica Pt. No exemplo anterior ele define-se como:

  • ¬ ( 1 ) = 0
  • ¬ ( 0 ) = 1
  • ¬ ( T ) = T
  • ¬ (⊥ ) = ⊥

B) Linguagem PtLeia mais »

Lógica Paraconsistente: Definição

No mundo real, as inconsistências são importantes e não podem ser desprezadas porque são as informações contraditórias que trazem fatos relevantes modificando, às vezes, completamente o resultado da análise. A existência da inconsistência é que induz ao sistema promover buscas procurando novas e esclarecedoras informações com consultas a outros informantes, para se obter uma conclusão mais real e confiável.

Seja uma proposição que contenha a premissa: “Esta maça é vermelha”. Sob a perspectiva de lógicas clássicas só poderemos afirmar que ela é vermelha (Verdadeiro) ou não é vermelha (Falso). Entretanto, sabemos que a maçã pode possuir diversas tonalidades, variando do verde ao vermelho. A representação de tal proposição em computação binária se torna impossível, já que o modelo binário tem grandes dificuldades de tratar inconsistências, ambiguidades, paradoxos e incertezas que ocorrem com freqüência no mundo real.

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A lógica paraconsistente recebe a seguinte definição, supondo que a linguagem L, subjacente a uma teoria dedutiva F, contém um símbolo para a negação. Então, F é dita ser inconsistente se e somente se possuir dois teoremas, dos quais um é a negação do outro; caso contrário, F é dita consistente. A teoria F é dita trivial se e somente se todas as fórmulas (ou todas as sentenças) da linguagem de L são teoremas de F; caso contrário diz-se que F é não-trivial. Ou seja, lógicas não triviais são aqueles que não satisfazem a seguinte teoria: “Uma teoria chama-se trivial ou supercompleta quando todas as proposições expressáveis em sua linguagem forem também teoremas”.

Outras definições importantes que completam um perfeito entendimento da lógica paraconsistente são:Leia mais »

Lógica Paraconsistente: Professor Newton Carneiro Afonso da Costa

Newton da Costa nasceu em 16 de setembro de 1929, na cidade de Curitiba, Estado do Paraná. Filho de Dimas Carneiro Affonso da Costa e Sylvia Carneiro Affonso da Costa aos quinze anos interessou-se por questões de Lógica e pelos Fundamentos da Matemática. Com o apoio de um de seus tios, Milton Carneiro, então professor de História da Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Paraná, iniciou-se em filosofia por meio de diálogos de Platão e de vários textos de Aristóteles, ambos em traduções francesas. Encantado com a filosofia debruçou-se sobre as obras de autores como Descartes, Poincaré, Lalande e outros, mas foi Bertrand Russell que exerceu forte impacto sobre o jovem Newton, embora este “divirja fundamentalmente de Russell como filósofo”, no entanto admirando-o como lógico, reformador social e ensaísta-publicista.

Newton da Costa (centro), com o irmão Haroldo e Marina Ribas, em 1936 (Fotos: Centro de Lógica/ Arquivos Históricos em História da Ciência/ FNCAC)Newton da Costa e Família

Da Costa obteve três graduações pela Universidade Federal do Paraná: em 1952, Engenharia Civil pela Escola de Engenharia, no ano de 1955 o Bacharelado em Matemática e em 1956 a Licenciatura em Matemática ambos pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Ainda na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Paraná, no ano de 1961, Newton da Costa recebe o título de Doutor em Matemática e se torna Livre Docente de Análise Matemática e Análise Superior. Em 1964, torna-se Professor Catedrático na mesma área de sua livre-docência. O Professor Newton da Costa, já chamado por seus pares e alunos como Professor da Costa, lecionou 14 anos na Universidade Federal do Paraná.

Recebendo os cumprimentos durante a cerimônia de sua formatura em engenharia civil, em 1952, na UFPR(Fotos: Centro de Lógica/ Arquivos Históricos em História da Ciência/ FNCAC)Formatura de Newton da Costa em engenharia civil (1952)

Newton da Costa foi:

  1. Diretor Associado do Instituto de Matemática, Estatística e Ciências da Computação da Unicamp em 1967;
  2. Professor Titular do Instituto de Matemática, Estatística e Ciências da Computação da Unicamp de 1968-1969;
  3. Professor Titular do Instituto de Matemática e Estatística da USP de 1970-1981;
  4. Professor Titular do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP de 1982-1999;
  5. Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP desde 1985.

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Newton da Costa na conferência na Universidade de Torum, na Polônia (1976)Leia mais »

Lógica Paraconsistente: História

Aristóteles (384-322 a.C.) apresentou a primeira sistematização da lógica da qual se tem notícia. Não obstante alguns desenvolvimentos posteriores, pouco conhecidos até perto do início do século XX, os princípios básicos da lógica de tradição aristotélica permaneceram incólumes, sem alterações significativas, até o século XIX. O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) chegou mesmo a dizer que, em matéria de lógica, nada mais poderia ser acrescentado ao que fez Aristóteles. A partir de meados do século XIX, no entanto, matemáticos como George Boole (1815-1864), Gottlob Frege (1848-1925) e Giuseppe Peano (1858-1932) deram contribuições significativas para a criação daquilo que ficou conhecido como lógica matemática. Por seu intermédio, a lógica tornou-se uma disciplina com características matemáticas, tendo alcançado um desenvolvimento extraordinário, com implicações as mais variadas em praticamente todos os campos do saber.

Entre 1910 e 1913, o lógico polonês Jean Lukasiewicz (1876-1956) e o lógico russo Nicolai Vasiliev (1880-1940) chamaram a atenção, de forma independente, para o fato de que, similarmente ao que se deu com os axiomas da geometria euclidiana, alguns princípios da lógica aristotélica poderiam ser revisados, inclusive o princípio da contradição. No seu célebre trabalho de 1910, sobre o princípio de contradição em Aristóteles, bem como em artigo do mesmo período, Lukasiewicz examinou três formulações distintas do princípio da não contradição (uma ontológica, uma lógica e uma psicológica), e rejeitou cada uma delas, argumentando que tal princípio não é válido sem restrições.

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Jean Lukasiewicz                                                     Nicolai Vasiliev

Como consequência, criou-se um precedente para o estudo das lógicas nas quais tais leis não se encontram satisfeitas — possibilitando, dessa forma, o aparecimento de lógicas não clássicas. Contudo, como Lukasiewicz não elaborou, naquele período, qualquer tipo de sistema lógico, esse precedente, em certa medida, perdeu-se. O questionamento do quinto postulado de Euclides por Vasiliev, o postulado das paralelas, mostrou que ele era independente dos demais axiomas da geometria euclidiana, podendo ser substituído por alguma forma de negação. Isso deu origem às chamadas geometrias não-euclidiana de extrema importância inclusive em física.Leia mais »

Lógica Paraconsistente: Aplicações

Neste segundo post do nosso trabalho acadêmico sobre lógica paraconsistente e computação quântica, iremos mostrar que a lógica paraconsistente não se limita a aspectos teóricos ou filosóficos. Pode-se demonstrar que as lógicas paraconsistentes generalizam a teoria de conjuntos nebulosos (fuzzy sets). Isso traz uma variedade de aplicações, permitindo que se construam mecanismos (para-analisadores e para-processadores) que permitem considerar uma variedade de comandos muito mais abrangentes do que os antigos ‘sim’ e ‘não’. A partir disso, têm sido feitos ensaios de aplicações ao controle de qualidade, à robótica, aos raciocínios não-monotônicos e padrões, ao controle de tráfego aéreo e na medicina. Um dos campos mais férteis de aplicações tem sido a ciência da computação e, hoje, a engenharia e mesmo a medicina.

medicina

Na década de 80, foi utilizada por Subrahmanian (da Universidade de Siracusa, nos Estados Unidos) e colaboradores na elaboração de sistemas especialistas para serem usados especialmente em medicina. Simplificando, pode-se imaginar situações em que um paciente interage com um computador e, mediante perguntas e respostas, ele chega a diagnosticar e até mesmo medicar o paciente, ou remetê-lo ao médico nos casos mais sérios.

Na elaboração de tais sistemas, que devem ser erigidos em linguagens nas quais se possa fazer determinadas inferências (tirar conclusões a partir de certas premissas), os cientistas em geral entrevistam vários especialistas (médicos). Para o programa funcionar, cria-se um banco de dados contendo as opiniões dos diversos médicos entrevistados, e é a partir desse banco de dados que o sistema vai tirar conclusões, valendo-se das regras de alguma lógica.

Porém, devido à grande complexidade envolvida com a ciência médica, os médicos podem ter opiniões divergentes (e mesmo contraditórias) sobre um certo assunto ou sobre a causa de um certo mal. Logo, se no banco de dados há duas informações que se contradigam, refletindo opiniões contraditórias de dois especialistas, se o sistema operar com a lógica clássica, pode ocorrer a dedução de uma contradição, o que inviabiliza (tornando trivial) o sistema como um todo. Para poder considerar bancos de dados amplos, eventualmente contendo informações contraditórias e sem que se corra o risco de trivialização, a lógica a ser utilizada deve ser uma lógica paraconsistente.

robotica

Na área da robótica, um robô pode estar equipado com vários tipos de sensores e tais sensores poderiam gerar informações contraditórias. Um dos casos mais simples é o de um visor ótico, que poderia não detectar uma parede de vidro, dizendo “posso passar”, enquanto que um sonar a detectaria, dizendo “não posso passar”. Um robô “clássico”, com ambos os sensores, na presença de uma contradição, terá dificuldades óbvias, que parecem poder ser mais facilmente superadas com o uso das lógicas paraconsistentes (usa-se nesses casos um tipo particular de lógicas, conhecidas como lógicas anotadas).Leia mais »